06 fevereiro 2010

Rosa Lobato de Faria

1932 - 2010

Quem me quiser há-de saber as conchas
a cantiga dos búzios e do mar
Quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.

Quem me quiser há-de saber as fontes
a laranjeira em flor a cor do feno
a saudade lilás que há nos poentes
o cheiro de maçãs que há no inverno.

Quem me quiser há-de saber a chuva
que põe colares de pérolas nos ombros
há-de saber os beijos e as uvas
há-de saber as asas e os pombos.

Quem me quiser há-de saber os medos
que passam nos abismos infinitos
a nudez clamorosa dos meus dedos
o salmo penitente dos meus gritos.

Quem me quiser há-de saber a espuma
em que sou turbilhão, subitamente
- Ou então não saber coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente.

em Memória do Corpo, Textual editores, 1992

P.s. - A minha singela homenagem apenas surge agora, porque até então andei a digerir esta perda... Não haver mais Rosa, mais livros da Rosa...

1 comentário:

João Roque disse...

Uma bela homenagem, com a poesia expressa e cantada...