Finalmente, lá me decidi aventurar num mestrado. Deste modo, regressei aos bancos da velhinha Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra! A minha mente fica povoada da nostalgia dos anos que lá passei, dos colegas que comigo compartilharam aquelas aulas mirabolante ou secantes (na sua maioria) e, especialmente, dos amigos que lá fiz! Passados 6 anos, pensa uma pessoa que já ninguém nos conhece e que irá passar despercebido, ainda mais eu, que nunca gostei de dar nas vistas.
Primeiro dia do recomeço.
Depois de uma íngreme subida pelo quebra-costas que me deixou sem fôlego, entra uma pessoa na faculdade de letras e resolve dirigir-se ao bar. Ora, o bar da Fluc ainda é povoado pelas mesmas senhoras que passavam a vida a chamar "o querido, o que deseja?", "então o que vai ser amorzinho?", "ora diga lá jeitoso?". Na minha ideia... passados estes anos já ninguém se lembra da minha cara... Ah, pois não! Enganei-me e bem enganado e comecei o dia em grande com uma recepção que me deixou mais envergonhado e encavacado do que a própria vergonha.
Ainda não tinha chegado à caixa do bar já estava a bendita senhora "ó lindo, não te escondas, não passas despercebido!". Aqui pensei, "será que é pra mim?". A dita senhora lá reforçou a ideia, "ai que bom ver uma cara conhecida... ai este lindo, há tanto tempo!". Aqui fiquei aterrorizado e comecei à procura do primeiro buraco onde me enfiar... entretanto começou-se a formar uma fila atrás de mim de jovens e esbeltas estudantes. Novo ataque... "então lindinho, o que vai ser?". depois de um sorriso forçado, quase esgar, lá respondi a custo "um café e uma água, por favor"!. Veio bomba. "Então que anda por aqui a fazer? Vai tirar outro curso?". Lá repondi que não, que me ia meter num mestrado. "Muito bem lindinho! Vai ser bom voltar a vê-lo por aqui!" - atacou ela. Sorriso forçado, repliquei eu!
Mas o pior ainda estava pra vir...
Chegou a hora de pagar. Tudo decorria com alguma normalidade, toma lá o dinheiro dá cá o troco, até que a mulher explode para a fila que se havia formado para o bar..."olhem este lindinho, este senhor professor,é dos antigos alunos... ai, um querido. A gente gosta de ver coisas destas!" Pronto, aqui morri!!! Um batalhão de gente a olhar de esguelha pra mim e eu muito timidamente e com o sorriso mais amarelo que consegui fazer, peguei na chávena e na garrafa e escapei-me para a mesa mais escondida que consegui encontrar.
Quer uma pessoa passar despercebida e logo no primeiro dia de regresso à faculdade leva com uma recepção destas... Lá se foi o meu sossego, graças ao raio da empregada do bar! Jasus, a mulher não se podia ter esquecido dos óculos em casa?
O que uma pessoa sofre!